sábado, 12 de maio de 2007


Mobilização pela paz, pela alegria geral!
Campanha pelo enfrentamento da violência sexual...
Essa semana muitas pessoas encontram-se ocupadíssimas em todo o país!
Muito bom se essa mobilização ganhasse fôlego para o ano todo; muito bom se a violência sexual tivesse a atenção e o cuidado necessários o ano todo, não apenas nesse momento em que contamos vítimas e orçamos políticas públicas de enfrentamento a esse caos social.
Participo ativamente dessa mobilização há anos, afinal, meu caminho é de luta, pessoal e social.
Também pela coletividade sigo confiante, contribuo para a alegria geral e para o enfrentamento da violência sexual, para o cuidado e atendimento à pessoas que passam ou passaram por essa experiência, contribuindo para o bem estar geral.
O 18 de maio desse ano tem um sabor especial pra mim...
Pela 1ª vez, expus minha história, meu Projeto Pele de Cristal (Ong e Livro) para a sociedade.
Faço da minha história um símbolo de coragem para que pessoas como eu, percebam sua força e coragem e acreditem em si mesmas, para que sigam seu caminho deixando para trás o lago sujo da indgnidade, da culpabilização e vitimização.
Tenho plantado sementes de amor e humildade, de fortaleza e coragem...
E tenho colhido bons ventos que me trazem especiarias doces e leves...
Em novembro sai meu material escrito: o Livro Pele de Cristal.
Em outubro, a formalização jurídica do Instituto Pele de Cristal, uma Ong que por definição, prestará apoio psicoterápico e jurídico a pessoas que passaram pela experiência da violência sexual.
Minha fala no lançamento da campanha de enfrentamento a violência sexual aqui no Ceará, foi de uma delicadeza e força surpreendentes!
Especial no sigificado e na materialidade de um projeto de vida: a ressignificação da minha experiência de violência sexual.
Hoje não acredito somente na possibilidade concreta de mudança através da psicoterapia, da materialização e interiorização pessoal de possibilidades outras além da dor e das consequências do abuso sexual.
Acredito numa vida com mais qualidade e dignidade para todos nós!
Creiamos na mobilização social como ferramenta de sucesso no enfrentamento da violência sexual através das políticas públicas de atendimento .
Cuidar da gente é também fazer política... agindo, falando, contribuindo a seu tempo e modo.
Cuidar de si mesma é também cuidar do coletivo, pensar na alegria geral, é também contribuir para a não revitização e não transgeracionalidade.
A campanha desse ano aqui no Ceará abordou a temática da ação do poder judiciário na generalização e banalização da violência na sociedade em geral.
Dei meu depoimento sempre enfatizando a importância da rede de proteção e atendimento à pessoas que passam pela experiência da violência sexual.
Notei que a platéia assistia inquieta e incomodada, demonstrando seu mal estar por conta dos meus mais de 20 anos de ausência de políticas de atendimento, e pelos meus mais de 20 anos de sofrimento e dolo.
Violência Sexual não é uma "brincadeira de criança", é um jogo perverso e unilateral, onde um adulto nos macula a alma e marca o corpo para sempre.
Sim, dói profundamente, e não há nada que justifique uma invasão sexual e as marcas que ficam, nos causando dor e sofrimento anos a fio.
Que fique claro que é difícil sim falar sobre essa dor pra quem quer que seja.
É uma exposição tamanha, e que sem o devido atendimento, sem o cuidado merecido e justo, tudo fica mais complexo e tormentoso, e escondemo-nos cada vez mais nas cavernas internas e escuras, onde a dor nos aprisiona e machuca.
Mas é preciso que eu diga que se faz necesário falar sobre para que consigamos cuidar das feridas que abertas sangram. Para um bom profissinal, um bom psicoterapeuta, é claro. Não é sair por aí, falando, se expondo...
Falar é cuidar de suas feridas, mas falar com segurança, porque sozinhas, ou mal acolhidas, não conseguimos fazer o caminho de volta à nós mesmas, à ressignificação de nossa história.
É necessário deixar vir essa dor, parir esse sofrimento para que consigamos ressignificá-lo em catarses psicoterápicas.
Como disse ontem a grande questão é sabermos o que fazer com tudo o que somos nós.
E agora, o que eu vou fazer com tudo isso que sou eu?
Você decide o vale mais a pena: se enfrentar os fantasmas, o cemitério particular de zumbis, ou se permanecer no escuro fétido para semrpe.
Sabe o qeu digo: acenda a luz! Saia desse quarto escuro de dor que te aprisiona, levanta-te, você pode e merece ser feliz!
O poder público presente ontem engasgou quando me ouviu contar que passei mais de 20 anos arrastando as consequências do abuso sexual para todos os campos da minha vida.
A platéia suspirou aliviada ruminando uma esperança resilente, quando me ouviu dizer que há outras possibilidades além da dor. Muitos profissinais (professores, prefeitos, psicólogos); muitos me procuraram ao final para dizer que lhes havia dado uma certeza: vale a pena fazer política de atendimento.
Precisamos do acolhimento da Lei, do pronto atendimento das Redes e Conselhos de Direitos quando manifestado algum movimento nosso, em prol de nós mesmas.
É sim muito difícil falar sobre... parece que vamos explodir ou enlouquecer de tanta dor... Mas é o remédio para a ferida aberta.
É necessário falar, materializar os fantasmas para que eles percam o sentido e força em nossas vidas.
Por isso sempre enfatizo a importância do processo psicoterápico nessa caminho de ressignificação. É necessário que acreditemos em nós mesmas, na nossa força, apesar das crises que teimam vir, teimam doer...
Dá medo sim, também nunca disse que seria fácil...
Mas escolhi a mim nesse caminho, deixei de empoderar o agressor, ou os que me abandonaram ao longo da vida. Escolhi a mim, porque sou a pessoas mais especial na minha vida. Sem mim, sem cuidar e zelar por mim mesma, não poderia viver...
E vale muito a pena viver!
Que é maior que o medo?
A vida!
"A violência sexual anda solta! E a justiça por onde anda?"
E você, que vai fazer com tudo isso que é você?
Fazer justiça é escolher você!
Que é maior que o medo?
A tua vida!